Filme da Barbie: depressão, ansiedade e Transtorno Dismórfico Corporal

Embora o Google tenha esse tipo de título nas buscas “procedimento íntimo inspirado em boneca Barbie genitália”, o filme produzido por Margot Robbie traz de uma forma leve algumas críticas ao estereótipo do brinquedo. Em algumas cenas, é possível ver diálogos em que a Barbie cita que nem ela, nem o Ken têm genitálias. Da mesma forma como ir a uma consulta com ginecologista seria algo impossível para ela.

Além disso, toda a expressão corporal também é debatida. Uma Barbie perfeita teria que ter pés em formato constante de quem está usando salto alto. Isso sim seria a perfeição.

Não teria depressão ou transtorno de ansiedade. O choro também seria algo não permite para quem teria este estereótipo. O longa-metragem conseguiu unir no roteiro questionamentos acerca da Saúde Mental e Íntima.

A figura feminina perfeita perpassou durante muitos anos pelo modelo criado pela Mattel. Quantos transtornos não foram desenvolvidos por quem não se encaixava nisso? Somente se encaixavam no estilo para mulheres brancas, magras e de cabelos loiros lisos.

Entretanto, essa não é a realidade. São diversos formatos de corpos, tamanhos e cores. Não existe uma forma única. A Saúde Mental, sobretudo, é o que mais afetou e ainda afeta algumas vítimas desse estereótipo.

Uma patologia associada a isso é o distúrbio de imagem, que também é chamado de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC). Isso inclusive associado a diversas cirurgias plásticas de quem quer ficar parecido com a Barbie ou com o Ken.

O que é o Transtorno Dismórfico Corporal?

Conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, é uma condição psicológica que se caracteriza pela preocupação, sem controle, com a aparência. Seus portadores dão importância exagerada a defeitos pequenos que, apesar de imperceptíveis para outras pessoas, assumem uma dimensão enorme aos seus olhos. O TDC se manifesta como um comportamento compulsivo em relação à aparência, causando baixa autoestima e muito sofrimento. Apesar de ser considerada uma doença grave, ela tem cura, desde que o tratamento seja realizado de forma multidisciplinar.

De acordo com o artigo “O Transtorno Dismórfico Corporal e a influência da mídia na procura por cirurgia plástica: a importância da avaliação adequada”:

“Tornamo-nos pessoas psiquicamente fragilizadas pela cobrança da sociedade e corremos risco de adoecer espiritualmente e psiquicamente. Segundo pesquisa realizada em 2016 (ISAPS/ IBOPE), o Brasil foi o segundo país onde mais foram realizadas cirurgias estéticas, 1,45 milhões no total. Os Estados Unidos lideraram, com 1,48 milhões de procedimentos, e a Rússia aparecia em terceiro lugar, com 579 mil cirurgias”.

O artigo “A beleza das meninas nas dicas da Barbie” também discorre sobre os distúrbios:

“Uma das mudanças observadas nos comportamentos das meninas, com múltiplas ressonâncias nas escolas brasileiras, diz respeito às preocupações com a estética e a beleza. Estimuladas pelas famílias e pelo mercado de bens e produtos de moda com ampla divulgação na mídia impressa, televisiva e virtual, o cotidiano das meninas vem sendo marcado por práticas de embelezamento do corpo com vistas à conquista da beleza. Fazer dietas, cuidar da pele, utilizar cremes e maquiagem, frequentar salões de beleza para cuidar das unhas e do cabelo (alisamentos, escovas, mechas), frequentar lojas para comprar roupas e vestir-se bem, de modo a ostentar aparências belas e elegantes, são conceitos e práticas de consumo que formatam a cultura das aparências compartilhadas pelas meninas da contemporaneidade.”

O filme da Barbie trata desses temas de forma leve e em alguns momentos de forma implícita. Não é um filme para crianças, haja vista que a classificação é para pessoas acima de 12 anos. É direcionado para as gerações que foram influenciadas pela boneca desde 1959.

Ana Célia Costa

Acadêmica de Fisioterapia

Jornalista (DRT 326)