Geografia e saúde coletiva no Brasil
Dos retrocessos na Saúde Pública no Brasil, o deterioramento do Programa Nacional de Imunizações possivelmente esteja entre os destaques, haja vista que há baixa cobertura em todas as vacinas no Brasil. Embora a Saúde seja de responsabilidade da esfera Federal, Estadual/Distrital e Municipal, as ações não são organizadas e há falta de logística eficiente para a reposição.
O principal retrato dessa desassistência na imunização foi visto durante o início de 2021. As regiões não receberam as vacinas de forma organizada. Exemplo: Manaus recebeu carregamento de vacinas que era de Macapá e vice-versa. Neste caso, o erro gerencial é completo, visto que todas as regiões tinham que receber quantidades certas para o público-alvo de suas localidades.
Conforme a matéria “76 mil doses de vacina que tinham sido enviadas por engano ao Amapá chegam ao Amazonas”, do G1:
“O Ministério da Saúde admitiu que errou e trocou a quantidade de doses de vacinas contra a Covid-19 enviadas ao Amazonas e ao Amapá. As 78 mil doses que deveriam chegar ao Amazonas foram desembarcadas no Amapá, que aguardava 2 mil doses.”
A situação não faz parte apenas do passado. Ainda em 2022, o Rio de Janeiro tem recorrentes suspensões nas vacinações contra Covid pela falta de envio por parte do Ministério da Saúde. Outras questões também influenciam na demora para envio. A falta de vacinas Coronavac (Butantan) também reflete a divergência política existente entre o Governo Federal e o Governo de São Paulo.
O artigo “A campanha de vacinação contra o SARS-CoV-2 no Brasil e a invisibilidade das evidências científicas” corrobora com esse questionamento:
Muitos foram os tropeços e embates do governo relacionados à vacina e ao processo de vacinação. Desde o início da pandemia, em meados de 2020, o governo federal criou crises diplomáticas com a China e a Índia, os maiores produtores de insumos farmacêuticos ativos do mundo, que repercutiram na capacidade do Brasil em produzir vacinas. As duas maiores instituições brasileiras produtoras de vacina, o Instituto Butantan, responsável pela CoronaVac, e a Fiocruz, pela AstraZeneca, foram profundamente afetadas. Em 2020, o governo federal poderia ter encomendado 200 milhões de doses da COVAX Facility, a Aliança Mundial de Vacinas formada por 165 países que buscavam garantir suas vacinas, mas se recusou a fazer parte dessa coalizão e só de última hora se somou ao grupo e encomendou apenas 42,5 milhões de doses, não sendo suficiente nem para os grupos prioritários. A Pfizer ofereceu a venda de 70 milhões de doses da vacina e o governo nunca respondeu às repetidas consultas da empresa. Ainda em outubro de 2020, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, mas foi desautorizado pelo presidente da República e suspendeu a compra. O Ministério da Saúde também não assinou contrato com a Janssen em 2020, mesmo com a empresa afirmando que o Brasil seria prioridade para a entrega de vacinas por ter sido sede do estudo clínico de fase 310. Até dezembro de 2020, o Brasil só havia estabelecido acordo com a AstraZeneca para a realização de transferência de tecnologia para a Fiocruz. Nesse contexto, fica claro o processo de fragilização do Programa Nacional de Imunizações durante a pandemia da COVID-19 no Brasil.
A organização e o planejamento para a devida implementação do Programa Nacional de Imunizações deve ser feita analisando as questões geográficas do Brasil. Algumas regiões são de fácil acesso por via terrestre. Outras (como o Amazonas) demandam também um planejamento via transporte fluvial e isso faz com que o tempo para chegada ao destino seja totalmente diferente.
A vacinação é fundamental para a prevenção de diversas patologias. Faz parte da promoção à saúde e, desta forma, está inserida nas ações da Atenção Básica, na Saúde Coletiva.
A Saúde de fato será Coletiva quando se analisar justamente as necessidades do coletivo. Enquanto questões políticas estiverem à frente da saúde da população, a Saúde será apenas Individual.
Ana Célia Costa
Acadêmica de Fisioterapia.
Jornalista (DRT 326)