A fome e a educação

A fome e a educação

Tendo como testemunha a Igreja de São Sebastião, a fome é a principal causa de mal estar de alunos da Comunidade que leva o mesmo nome do santo católico, em Iranduba (36,3 km de Manaus). Dos 500 alunos da Escola Municipal Marcos Benício Rios, o registro é de 3 a 4 vezes por semana alguém desmaia por causa da fome. A informação é do diretor da instituição Washington Nascimento da Cunha. A escola fica ao lado da Unidade Básica de Saúde (UBS) Joana Miranda de Oliveira.

Além dos desmaios pela fome, há também outras questões sociais que influenciam. “A gripe é o principal motivo pelo qual os alunos faltam.Também há muitos que frequentemente têm diarreia ou verme. As crianças brincam descalças e isso é fora da escola. Outra doença é a dengue”, explicou Cunha. 

A saúde mental dos jovens também é problemática. O diretor também alertou:  “Há muitas crianças com ansiedade e depressão. Em uma tarde já presenciei 18 adolescentes se mutilando. Também há um aluno que já se suicidou em 2020”.

A questão estrutural da região é precária. A escola tem um poço artesiano. Este fica aberto das 6h às 20h. “Já tentamos mobilizar para termos asfalto aqui, mas no sistema consta que nossas ruas já estão asfaltadas”, denunciou o diretor. A Comunidade São Sebastião não tem ruas asfaltadas e em época de chuvas isso é um fator que impede a população de transitar com qualidade.  

Na Escola Municipal, há crianças da Comunidade São Sebastião, São Francisco I e II, Nova Conquista e Peixe-Boi. A principal alimentação dessas crianças provém da merenda escolar. A divisão da alimentação é intercalada da seguinte forma: um dia é servido suco e mingau (que pode ser de aveia ou munguzá); outro dia é servida alguma proteína. “Para muitos é a única alimentação do dia. Não era tanto assim antes. As crianças desmaiam de fome. Estou há 4 anos na gestão desta escola, mas há 9 anos sou professor aqui. Os últimos anos do Governo Bolsonaro foram terríveis para nossas crianças”, destacou o diretor. 

O tráfico de drogas também está inserido na Comunidade São Sebastião. Washington Cunha informou que nos últimos cinco anos já perdeu mais de 30 anos para o mundo das drogas. São jovens que foram assassinados e que, de alguma forma, estão ligados ao tráfico. 

A mobilidade também é totalmente insuficiente para a região. “Aqui não passa ônibus. Temos duas rotas escolares.Uma é da Prefeitura e outra é terceirizada. Essa falta de qualidade na mobilidade também impacta com a falta de estrutura nas vias, como já foi citado anteriormente. A coleta de lixo é realizada uma vez por semana. 

Apesar de todas as dificuldades pela falta de qualidade, as crianças da escola da Comunidade São Sebastião têm ações  de saúde da escola uma vez por mês. São atendimentos de dentistas e campanhas de vacinações. O atendimento psicopedagógico também envolve apoio a 4 alunos autistas e um com suspeita de síndrome de down. 

Dados

Na Escola Municipal Marcos Benício Rios o ensino é dividido da seguinte forma: no turno matutino são turmas do  1º ao 4º ano; no vespertino são do 5º ao 9º ano; no noturno são do 6º ao 9º ano e Educação de Jovens e Adultos (EJA). 

Ana Célia Costa

Acadêmica de Fisioterapia.

Jornalista (DRT 326)